terça-feira, 28 de outubro de 2008

Um Almoço

Saímos os três.
Clima Amistoso, porém Tenso.
Rumo ao Restaurante e uma conversa ou outra em como eu estou, se finalmente desencalhei, e se ando escutando sininhos e sentindo borboletas no coração (como eu mesma costumo dizer).
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Entre risadas e absurdos seguimos.
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Pergunto : e aí afilhados, como anda essa vida de casados ?
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Foi o suficiente para que uma segunda guerra se instalasse naquela mesa.

- Voce saiu naquele dia e não me falou nada.
- Pensei que tivéssemos resolvido por e-mail os problemas
- Problemas não se resolvem por e-mail
- Voce fica o tempo todo jogando no computador
- Voce precisa se ocupar mais e deixar de se preocupar comigo
- Voce anda bebendo demais
- Voce anda implicando demais
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Uma cena de acusações, na fala, pitadas consistentes de sarcasmo e mágoa.
Tudo durou alguns segundos, mas para mim pareceu uma eternidade.
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Só fiz uma ou outra pergunta do tipo : Aonde foi parar a leveza e a cumplicidade que vi lá fora há pouco, quando voces dois começaram a me interpelar ?? Aonde foi parar o riso fácil ?? Aonde voces querem chegar com agressões gratuitas e Autismos sentimentais ??
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Uma resposta ou outra evasiva, mas ambos afirmando o quanto se amavam e que queriam continuar juntos.
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Ouvi bastante e falei pouco, só um ou outro lembrete do tipo : Voces se importam com coisas demais, se curtam mais e não deixem que o dia a dia estrague o que voces tem de melhor que é um ao outro e que é se querer bem.
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No final, o marido pediu licença para ir ao Banheiro, e voltou com um buque de flores lindíssimo, anotaram a data de hoje para virar a página, e reinventaram-se.
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Não sei quanto tempo vai durar, se vai durar ou se é para durar - Acredito que tudo dura o tempo que tem que ser, até porque um dia vai acabar - porque sempre acaba. (seja pela morte morrida, seja pela morte matada).
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Pergunta : Porque não fazer dessa trajetória o melhor dos mundos ??

É claro que os problemas existem, as incompatibilidades tambem, alguns se prendem demais a orgulho, outras a vaidade, uns a nem um e nem outro. Seria tão mais fácil se primeiro procurássemos entender porque as pessoas reagem da forma contrária com que achamos que ela deveria agir.
Entender é melhor que acusar.
Dialogar é melhor que interpretar.
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Só sei que voltei desse almoço esquisita.
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Eu já casei e me separei, mas acredito na "instituição casamento", "morar junto", "ter alguem para esquentar os pezinhos", me separei porque no meio da trajetória nos demos conta de que eu remava para um lado e ele remava para outro - com uma filha, minha decisão se tornou muito mais dificil e lenta, mas acertadamente resolvi seguir meu caminho.

Eu acredito na leveza do espírito, no riso, eu me divirto com caminhadas pela Lagoa, com um café quentinho no Prefácio, com banho de chuva, com o abraço de um amigo que não vejo há muito tempo, com declarações inesperadas.
Me divirto soltando pipa, brincando de fazer castelo na areia, ou mesmo quando estou triste faço careta sozinha olhando para o espelho, é que assim imagino que posso "assustar" a minha tristeza, e talvez ela não volte.
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Sei que é impossível tanta poesia no meio do caos, do dia a dia, as pessoas arrotam, soltam gases, roncam, babam, apertam a pasta de dente no meio, ele normalmente "esquece" do aniversário do amigo do cunhado do filho da melhor amiga dela que vai ser naquele domingo as 16:00Hs na hora do jogo do mengão, a aí diz - ô amor, não vai dar.
e por conta disso ela faz um drama do tamanho da torcida do mengão e jura por Deus que nunca mais chama ele para fazer nada com ela.
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Quanta besteira - Porque não se faz um concurso de Arroto dentro de casa e se ele ganhar ela vai para o jogo com ele e se ela ganhar ele vai na festa com ela.
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Pode-se tambem chegar ao consenso - cada um faz o que quer fazer sozinhos, ou melhor ainda, porque os dois não caem na cama e se acabam de tanto fazer amor.
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Eu tenho aprendido muitas coisas.
Uma coisa é certa, dividir a vida com alguem tem outro sabor, e é muito bom, por mais tortuoso que pareça ser.
Basta que a dupla queira aprender a Reinventar-se todos os dias, emocionar todos os dias, surpreender quase todos os dias, um e-mail, um telefonema inesperado, um elogio fora de hora, um presente sem data certa, um beijo roubado, um encontro furtivo no meio da tarde, um desejo de boa sorte naquele dia especialmente dificil, um concurso de Arroto depois do almoço, ou simplesmente nada - apenas o silêncio na sala - um lê o jornal o outro lê o livro peferido pela milésima vez, mas as mãos estão bem entrelaçadas, em silêncio, apenas uma demonstração de o quanto eu quero voce bem, meu bem.
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Reinventando e aprendendo, reinventado e aprendendo.
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Não sei se essa é a Receita, mas acho que é um bom começo.
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Um comentário:

Nirton Venancio disse...

Acho super coragem quem se abre assim... e escrevendo bem, como você escreve. Com simplicidade e sinceridade.
Eu não conseguiria. Não por falta de simplicidade e sinceridade. Talvez pelo excesso das duas.